sábado, 17 de março de 2018

 Fragmentos de Memória Blog

 Fragmento de Memória em PDF


Taiobeiras, quem a conheceu ainda te reconhece!

Uma cidade de um breve outrora
Visto que é muito jovem, e sempre foi orgulho
Pra quem nela nasceu, morou ou ainda mora
Quem nela viveu, conviveu, ou simplesmente a viu
Jamais a esquece, mesmo quem dali um dia partiu.

Apesar de sua mudança plástica, sua essência continua
Seu retrato é digno de quadro de moldura
Nas praças, Avenidas ou em uma determinada rua
Que ainda mantem fiel sua pintura e arquitetura

Misturando-se arquitetura moderna e singela
Em traços e cores, de uma verdadeira aquarela
Mas, e se o tempo.... esqueça-o por um momento
E aprecie-a da sua janela, o quanto és bela.

Alguns valores com o tempo mudaram ou se sucumbiram,
Mas os ideais dos valorosos homens que a construíram
Ainda se mantiveram e são premissas, preceito
“Praqueles” que querem manter sua história
Sua tradição seu nome, de uma cidade de respeito.

Ainda guarda o ar puro de cidade das praças pra passear
Das árvores, cheias de pardais, andorinhas e pássaros
Exibindo seu cantar antes do novo dia descortinar

Árvores que cresceram junto com ela registrando sua história
Das grandes palmeiras, como que protegendo a Igreja Matriz
Pra saciar a sede, de meninos e “passarim” já teve até chafariz

Palmeiras que sempre nos pareceu grandes, hoje imponentes
Mas que já tiveram sua infância, já foram criança, dependentes
E cresceram junto com sua progenitora, sempre perfiladas
Em posição militar, abrindo alas, pra admirador passar.




Taiobeiras, quem a conheceu ainda te reconhece!

A vila formosa que formosura...
Os muros de adobe, as velhas casas
E os frondosos pés de jaca, tiveram que o pé arredar
Deram licença pra grande Avenida passar...
Avenida Caiçara, que começou mocinha
Agora é adulta tem até faixa pra pedestre atravessar

Das casas de platibandas, aos prédios comerciais
E que hoje, seu vai e vem não para mais
Com ela cruza São João, Santos Dumont e outras mais.

Rua Rio Pardo, com seu prédio de adobe quase centenário
Deu lugar à casas modernas, desenhando um novo cenário
Hoje, num braço dela, os carros só podem descer
Mas já subiram e desceram muitos carros 
Os de boi, já encostavam antes do amanhecer

Um dia subiram, e não mais vieram a descer
Até seu canto, gravado na história, emudecer.
Descia trazendo lenha e candombá
Pras donas de casa, que cedinho
Antes do sol brilhar, já estavam lá

As biscoiteiras, escolhendo as melhores lenhas
Pra na hora dos fornos cheios, o fogo não acanhar
E o brasil vermelho não acinzentar, antes da lida terminar.


A contorno a envolve, com seu longo abraço dobrado...
Mas de todos os seus caminhos, ruas e carreiro
O mais comprido, e talvez fosse até o primeiro...
Rua Bom Jardim, cruzando a cidade de ponta a ponta
Como um longo risco de avião em seu vôo de cruzeiro

Riscando com seu traço retilíneo de nordeste a sudoeste
É caminho longo a se percorrer, sobretudo pra pedestre
A rua mais esticada da cidade, e que leva em seu nome...
O distrito que se tornaria cidade, e que por essas beiras
O povo todo a conhecia, por Bom Jardim das taiobeiras.

Rua Francisco Sá, não tão comprida, mas fora dividida
Hoje sua metade, é referenciada às famílias Pereiras
Pessoas que já se foram, outras são filhos das primeiras
Moradores ilustres: Seu "Manim"  Dona Betí,
Esta última, mesmo estando também ausente
Tem uma escola com seu nome, e se faz presente
Dedicou parte de sua vida, educando essa gente.

Seu "Manim" um dos primeiros comerciantes da cidade
Que ali morou, mas comercializava na Avenida Liberdade
Seu bar, ponto muito conhecido e frequentado
Pra quem fosse viajar, ou na cidade tivesse chegado
Ponto de ônibus, do inesquecível sonho recheado
Um apaziguador, não por ser Juiz de Paz
Mas por ser também, um homem do bem.

Machado preguiçoso, com corte sem confiança
Que fazia o lenhador escorrer suor na face sofrida
Levava-se no Sr. "Catão", que assoprando o fole
Da velha fornalha inscandescente, acelerando as brasas
Fazia ferro duro amolecer, como rapadura derretida.

Primeiro amarelava, depois avermelhava até azular
Batendo na bigorna até o seu corte afinar
Machado amolado, nao amola mais a lida
agora num golpe só, faz angico e aroeira rachar.



Taiobeiras, quem a conheceu ainda te reconhece!

Avenida da Liberdade, que passaram muitos pneus
De bicicletas, aos milhares, velozes subia e descia
No dia de corridas sempre incentivadas  por Amadeus
Os sexagenários paralelepípedos, já acinzentados
Ciclistas suados, em seu ritmo frenético e acelerados
Tornavam os primeiros de maio mais animados


As marcas das freadas, nela já não mais estão
Foram apagadas pelas águas das chuvas de verão
Que tantas vezes lavaram as pedras do seu chão
Avenida que num passado distante, fora chão de terra
Não chão desnudo de tudo, mas cheio de bananeiras
Terra boa, chão de muitas taiobas, chão de Taiobeiras.

Hoje passam muitos pneus até de carro importado
Mas quando passam sobre eles os mesmos passos
Agora já lentos, de quem um dia os pisou apressado
Ainda que devagar, descompassado, esse passo....
Será lembrado visto que foi alí um dia registrado.




A Praça 13 de maio hoje espaço de disputas judiciais
Fica próximo do espaço que antes, nas tardes de domingo
Se disputava pra ver entre dois rivais, quem jogava mais
Palco das muitas partidas e decisões acirradas
MINAS e ATE, no empoeirado, mas sempre lotado
Estádio 13 de maio, por torcidas unidas e animadas.

                                         Time do MINAS (SHELL)

ATE... time dos três irmãos: Neguim, Demi e Nen Pilão
E os cândidos também irmãos: Dé, Dinei e Zitão
                                                                       Time da ATE

                                                                   Time do JK

Hoje estaciona-se carro de Promotor e de Juiz, do Fórum
Antes era estacionamento do bandeirinha, do zagueiro
De outro juiz, mas o de bermuda e também do goleiro.

Praça Tiradentes, que por longo período fora de terra...
Sempre com os ventos assoprando areia, um espaço vazio
Os redemoinhos aspiravam sua terra, em forma de funil
Fazendo uma revoada de folhas secas, plástico e papelão
Nuvem cinza, indo rumo à grande garganta do “Tocão”.

Se lembram bem, as crianças e seus moradores
Onde vinham os circos, com seus chinpanzés adestrados
Com seus palcos, palhaços e audazes trapezistas voadores
Hoje tem palco suspenso, projeto com ar de modernidade
Suas muralhas de concreto, uma obra de destaque da cidade.




O extenso e longe campo de avião, de terra batida
Que serviu por muito tempo de pista pra corrida
Pra avião correr ligeiro e alçar vôo em sua partida
Ou pras corridas à tarde ou de manhã cedo
Virou rua pavimentada, virou Rua São Pedro
E não tem mais o Sr. “Catulino”, guardião de avião
Era só os curiosos meninos encostarem, logo ele vinha “raiar”
Que era perigoso, e menino não podia encostar.


Taiobeiras, quem a conheceu ainda te reconhece!


Pros de fora, pra dormirem e apreciarem uma comida boa
Hotel Lobo, hotel Neide, hotel Saraiva, hotel Lisboa...
Hotel Taiobeiras, hotel Mickey, Dalas hotel, hotel Brasília
Por serem muitos, dava pra hospedar toda a família.

Vendas, pensão, restaurantes e lojas Loja de departamento...
Não é novidade de hoje, visto que já existia naquele tempo
Pra comprar rádio, relógio, bicicleta, televisão, cama, colchão...
Engenho, guarda roupa, pedra de anil, arame, e até funil
Tecidos, dedal, linha pra pescar, bordar e pra costurar
Perfume, lenços de bolso, bobis e lenços floridos...
Pentes e miscos, pras mulheres seus cabelos enfeitar.


O indispensável, costumeiro e corriqueiro, jogo de lavar
Duas bacias de rosto, e um jarro branco esmaltado
Pra moça que ia casar, compor e formar a sala de estar
Talheres e pratarias pro enxoval completar
E ir pra casa com a certeza de nada faltar.

Tomava-se uma, enquanto o fumo era esfarelado
Com dedo calejado, a palha esfregada e amaciada
Inteirava-se dos assuntos de política acirrada
O preço da semente de capim da próxima invernada
E até o preço da arroba de gado e do capado.

Na loja de Seu “Tezinho”, de tudo quanto havia,
Era só procurar, urna funerária ninguém queria,
Mas se a hora infortuna chegasse, lá se compraria.


Taiobeiras, quem a conheceu ainda te reconhece!

A Igreja Matriz, ainda permanece majestosa, ano após ano
Na praça que leva seu nome, vigiada pela imóvel...
Mas ilustre, e imponente, estátua do Frei Jucundiano




Padre muito respeitado, venerado e reverenciado
Postumamente..., mas para sempre, lembrado
Por todos aqueles que o conheceram
E o tem como mártir religioso, fervoroso
E da sua fé e devoção, não esqueceram.

Igreja Matriz...
Palco de casamento, de realização de sonhos
Da expressão da fé, expressão da emoção
Expectativa e concentração na primeira comunhão


As faces suadas dos expectadores, na aglomeração
Para assistir ao grande teatro da vida real
Imperdível Paixão de Cristo, nas sextas feiras da Paixão
Soldados empunhando suas espadas afiadas
Derramando um líquido vermelho, a seiva da vida
Em uma face ferida, mostrando uma saga sofrida
Cujo personagem sofrido... Jesus Cristo
Protagonizado com muito fervor e devoção
Por Nen Pilão Causando a todos, muita comoção.

Num tempo sem rede social e grupos virtuais
Os jovens se comunicavam e estavam sempre atuais
Passando convivência e mensagens de paz e amor
Através dos grupos JUAC, JUVITA E BEIJA-FLOR.





O até então, distante Santos Cruzeiros, com sua estradinha
Que tinha seu ponto de partida, a partir duma igrejinha
A Igrejinha de Nossa Senhora, em seu estilo octogonal,
Agora a cidade já a abraça, porque já é parte do seu quintal.





Para trazer proteção, São Sebastião
Que da cidade, é padroeiro e protetor
E pras dores, pros males do dia a dia
Aí é com o Doutor,  Recorrem a outro santo...
Santo Antônio, que  os males alivia.

Através do hospital que leva o nome de santo
Aliviando os males de crianças, jovens e melhor idade
Iniciou miúdo, apequenado e hoje está todo estruturado
Orgulho de muitos, e não somente desta cidade.


Josés ?..... A cidade tem por demais
O Santo Antônio, teve dois em sua história
Estiveram sempre lá, em toda sua trajetória
Um é doutor e foi entre seus fundadores, o precursor,
Filho ilustre Taiobeirense, Dr. José, um respeitado Doutor.

Muitos outros filhos, ajudou a vir ao mundo,
Sem imagem de ultrassom, pra saber qual roupa comprar
Só depois dos tapinhas na bunda, pra confirmar
Vendo a luz pela primeira vez, dele sempre hão de lembrar.

E os primeiros arranhões dessas crianças levadas
Foram por tantas vezes lavadas e tratadas...
Por outro José, Sr. José Lauro, senão o primeiro...
Mas o pioneiro, um sempre solícito, e muito respeitado
Ilustre cidadão e sempre um enfermeiro muito dedicado.


Taiobeiras, quem a conheceu ainda te reconhece!

Das mãos artesãs, cheias de dons,
Mãos abençoadas, muitas vezes calejadas
Criando arte, arte rústica, de vida bucólica e urbana
Retratando gente simples, em sua vida cotidiana
O barro cru da terra, após amassado, é transformado
João Alves, D. Maria entre outros mestres dessa profissão
Que deixa um legado, a arte, em nome de uma tradição.

Dos potes de barro aos retratos da vida
Feições de personagens retratados em sua lida
Tradição e religiosidade impressos com muita fidelidade
Levando à outras fronteiras, a arte desta cidade.


Tempos atrás...
Sela boa, era oficio do mestre “Sr. Joás”
Ternos de brim, risca de giz, ou do tecido que quiser
Sr. Valdemar e o Sr. Zé Caitité, menos roupa pra mulher
Mas pra homem sim, com muita maestria
Para uma grande freguesia.

E descendo a mesma Avenida, mais um pouquinho
Encontrava-se a sortida loja do Sr. “Bilinho”...
Donde se retirava da caixa, um chapéu “Prada” novinho
Com uma das abas ligeiramente dobrada
Num galanteador cumprimento à namorada.

As moças além do magistério que tinham que cursar
Tinham que saber outra casa arrumar
Arrematar em zigue-zague, as casas, não o lar
Mas casinhas pequenas pros botões não pular


O curso ministrado por D. “Nenem”, corte e costura
Era curso obrigatório, sempre junto, ou após a formatura.

Sapatos pra reformar ou costurar, tinha onde levar
Sr. "Calura" e Sr. Wilson, distintos e "afamados" sapateiros
Mestres que "coseram" por muitos janeiros .

Hoje só ficaram suas lembranças...
Um partiu primeiro, o segundo por derradeiro
Após muitos anos e janeiros do primeiro
Mas ficaram as lembranças das crianças...
Adultos de hoje, mas ainda se lembram do que viu
Os mestres de um ofício, que por muito tempo existiu.


Outro ofício distinto...., entre outros mestres:
O Sr. Andes, “Julim” e o  Sr. Filintro
Transformando as moças e rapazes acanhados
Sempre agraciados e agradecidos pelos clientes
Pelos até então, sorrisos estreitos ou ausentes
Agora sorrisos largos demorados e estridentes.

Agora dentes brancos, sorrisos confiantes
Tal qual teclas branco-porcelana brilhantes
De piano clássico, “dó ré mi fá sol lá si”
Lábios alegres que agora facilmente sorrir.


Taiobeiras, quem a conheceu ainda te reconhece!

Do colégio, onde professoras dedicadas e vocacionadas
Sempre ensinavam, pra se aprender ler direito a leitura
Hoje se tornou casa grande, casa de entra e sai
Se tornou casa de prefeito, virou prefeitura




Das atuais escolas, ainda perdura as que vieram primeiro
Grupo da Barragem e Deputado Chaves Ribeiro
Do Grupo de Ferro, aproveitou-se o seu telheiro
Hoje, a cidade conta com outras cinco mais:
Dona Betí, Dona Preta, Oswaldo Lucas Mendes
Tancredo Neves e Dr. José Americano Mendes
Além das particulares, pré-escolas e municipais

Ah! Agora curso superior...
Não precisa ir pra fora pra virar doutor
Os polos das faculdades, diminuiu as dificuldades.

Nas páginas da história, de assuntos de escola....
Onde tecnologia, não se tinha, ou ainda era precária
Ficaram impressas nas páginas das lembranças
A gentileza e dedicação de uma bibliotecária
Dos tempos sem Internet, sem Ctrl C e Ctrl V
Havia muito pra se ler antes de escrever
Em folha dupla de papel almaço pautado
Escrevia-se, o que fora na BARSA, pesquisado.

“Nesa” ...
Sempre com muita calma, gentileza e solicitude
Ajudou a enriquecer os conhecimentos de toda uma juventude.


Taiobeiras, quem a conheceu ainda te reconhece!

A Casa Legislativa, casa das Leis de hoje
Por ironia, já fora casa de outras leis um dia...
Lei do 38, dos revólveres de Keoma de Franco Nero
Filmes de Faroeste, assistidos com muita euforia

Shaolin, Bruce Lee mestres do Karatê...
Do inesquecível e épico filme de Papillon
Ao imenso rosto de King Kong
Projetados na grande tela do Cine Trianon.

Iracema a virgem dos lábios de mel
Filme censurado, dia de cinema lotado
Fila comprida, que descia pela Avenida
Mas nem todos tiveram a mesma liberdade
Pela exuberância da cabocla e em face da idade.
 
Pra tomar uma gelada e descontrair, tinha opção:
Bar Amor e Cana, Bar The Doors e Bar do Clerão
Um papo com a rapaziada e assunto pra conversar
Brisa Bar, Aranha’s Bar, Pilão Bar, Ney Jeep’s Bar.

Pra uma balada ou uma noite mais esticada:
Boates Penumbra, Cabana, Tô Marron, Skinão e Jaqueira
Por do Sol...
Onde se podia começar apreciando o sol se pôr
E se estender até ao nascer, já quando a noite se for
Sempre ao som dos Colares no cavaquinho e violão
Som Colares, Milton Colares
E ainda Edmilson Colares na percussão.


As lembranças tecem a história
E se a linha do tempo lhe falsear
A Internet ajuda no resgate da memória
Navegue em www.taiobeiras
Lá tem lembranças desde as primeiras
Até as derradeiras...

Apesar das amizades virtuais,
Apesar da correria do dia a dia
As velhas amizades, permanecem atuais
Devido aos vários caminhos seguidos
A distância não os fazem esquecidos
Mas em festivos dias de Maio e dezembro
As amizades se refazem, o elo se fortalece
De quem se conheceu e ainda se conhece.


Renilson Alves Pereira -  Março de 2018.














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